Os 10 Melhores Filmes Que Vi em 2022, O Ano Que Quase Não Terminou

janeiro 01, 2023

Como já expliquei anteriormente, essa lista segue apenas uma tradição da crítica de elencar apenas os dez melhores do ano, claro que muitos outros filmes poderiam figurar nessa lista, mas o critério convencionado é 10. A ordem dos filmes é apenas progressiva, ou seja, não quer dizer que o primeiro é melhor que o segundo e assim sucessivamente. Lembro ainda que diferentemente das listas tradicionais, a minha não abarca apenas os lançamentos do ano, o critério que sigo é o de ineditismo para mim, quer dizer que vale qualquer filme que vi pela primeira vez no ano que findou, não importando o ano da sua produção. Posto isto, vamos aos dez melhores filmes do ano 2022:

Last Film Show - Índia, 2022

Talvez o mais emocionante, delicado e sensível tributo ao cinema feito até agora (ao menos a um tipo de cinema que se pratica em todo o mundo). Essa produção indiana de 2021 (mas só lançada em outubro de 2022), roteirizada e dirigida por Pan Nalin, é quase uma autobiografia do autor. A Índia é o maior produtor de filmes do mundo, posição que mantém há décadas, e os indianos adoram cinema. Nesta obra-prima comovente vamos acompanhar a iniciação cinematográfica do pequeno Samay (excelente atuação do menino Bhavin Rabari) em Chalala, pequena cidade nos confins da Índia. O interessante é que esta é a mesma temática do novo filme de Steven Spielberg, Os Fabelmans, (que também já vimos) e o paralelo entre as duas iniciações desses jovens apaixonados por filmes revela muito sobre o planeta em que vivemos.

A culinária indiana com seus temperos e misturas, a religiosidade hindu que abrange um panteão diverso de deuses e deusas e as diferenças sociais baseadas no critério de castas, também são destacadas no filme.

A sequência que mostra a “encarnação” dos grandes mestres do cinema indiano e mundial nas pulseiras coloridas que adornam os braços das mulheres é para ser aplaudida de pé. Não percam.

O Exército Nu do Imperador Marcha - Japão, 1987

O diretor e cinegrafista Kazuo Hara acompanhou durante 5 anos Kenzo Okuzaki, um veterano da Segunda Guerra Mundial de 62 anos, conhecido por seus protestos públicos contra o imperador Hirohito. Ele denuncia casos de canibalismo que testemunhou quando oficiais graduados mataram e comeram soldados rasos nos últimos dias da Segunda Guerra em solo japonês. Além da temática totalmente inédita, o filme mostra a coragem do denunciante e do cineasta em expor este delicado tema que ainda hoje é silenciado no Japão. Kenzo acabou seus dias na prisão, mas deixou esse exemplo de honra e destemor como legado de vida.

Saladino - Egito, 1963

Superprodução bem cuidada em termos de cenários, figurinos e figurantes. Os poucos desencontros da edição nas cenas de batalha, invertendo o eixo e desorientando o espectador num tipo de narrativa que exige a impressão de continuidade linear, não comprometem as 3 horas e 14 minutos do drama épico egípcio. No geral é um filme honesto que nos apresenta uma visão nova, do lado islamita, sobre Salah El Din o grande líder muçulmano que reconquistou Bayt El Makdes (nome que os seguidores do profeta Maomé dão a Jerusalém) e expulsou os cruzados europeus, a rigor invasores da Palestina, território árabe sequestrado pelos ocidentais. Excelentes atuações de Ahmed Mazhar (Saladdin) e Hamdi Geiss (Ricardo Coração de Leão) além da ótima direção de Youssef Chahine.

O Martelo das Bruxas - Tchecoslováquia, 1970

Nos anos 1600, século 17, o terror oficial da “santa” Inquisição assola a Europa deixando um rastro terrível de tortura, arbitrariedades oficiais, perseguições e mortes na fogueira em praça pública com as bênçãos da igreja. No filme, a inquisição já está perdendo força nas grandes cidades e capitais, mas nas cidades pequenas do interior ainda prevalece, nesse cenário de atraso um medíocre estudante reprovado na escola de Direito, performance marcante do austro-húngaro Vladimír Smeral, comanda uma equipe de inquisidores com poderes absolutos. Primeiro atacam os mais pobres acusando-os de bruxarias e pactos com o demônio, depois partem para cima dos ricos com o intuito de tomar seus bens e propriedades sob pretexto das mesmas acusações. As ditaduras são assim, começam com um golpe diz que “em nome de Deus”, se alastram rapidamente assentadas na ausência da Justiça (os tribunais são fechados) e da divulgação dos delitos (censura ferrenha com imprensa amordaçada) dando total liberdade para seus agentes da repressão agirem como quiserem, pois, têm certeza absoluta da impunidade.

A metáfora com os métodos e a atmosfera de medo e confissões compulsórias que caracterizavam a repressão nos países comunistas do Leste Europeu da era stalinista da década de 1950 é claríssima. Mas não é um filme datado, muito pelo contrário, é uma denúncia atemporal sobre o arbítrio e a violência covardes que impera nos regimes ditatoriais, sejam eles políticos (de esquerda ou de direita) ou religiosos (não importa o credo).

Joaquim - Brasil, 2017

Uma abordagem crua da realidade brasileira na época, final do século 18, em que viveu e atuou Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Nada de heroísmos ou mitificações (numa cena, o alferes é obrigado a raspar a vasta cabeleira por causa de... piolhos!); o diretor Marcelo Gomes (também roteirista) mergulha sua câmera nas profundezas do Brasil colonial com seus sacerdotes, autoridades e ricos proprietários em conluio permanente contra negros, índios e o povo em geral. A sequência do banquete no terreiro da fazenda de um latifundiário, com um Tiradentes ingênuo e sonhador sendo alvo das risadas irônicas de uma jovem comensal e do clero é exemplar e convida o espectador a uma reflexão. Filme que deveria ser incluído como material paradidático no ensino fundamental.

Argentina, 1985 - Argentina, 2022

Diferentemente do Brasil e da Espanha, por exemplo, os crimes cometidos pela ditadura civil-militar que aterrorizou a Argentina entre 1976 e 1983 foram julgados por um tribunal civil e os carrascos foram condenados e presos. O general Jorge Rafael Videla, primeiro presidente da ditadura, morreu na prisão em 17 de maio de 2013, ele era condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, entre eles o sequestro de crianças, tortura e assassinatos de opositores (muitas dessas vítimas foram jogadas de madrugada em alto mar de aviões do exército e da força aérea). O filme cobre o período do julgamento em 1985, o advogado das vítimas, Julio César Strassera (Ricardo Darín em mais uma grande atuação) enfrenta ameaças de todo tipo, mas não se acovarda na sua luta titânica por justiça. Dirigido por Mitra de Santiago, esse drama político-histórico é o candidato oficial da Argentina para a categoria 'Melhor Longa-Metragem Internacional' do 95º Oscar em 2023. Filmes como esse são para serem vistos, comentados e reprisados sempre para que nunca esqueçamos os fatos narrados. Uma visão dos nossos vizinhos muito além do futebol. Vejam e confiram.

O Preço da Triunfo - Suécia, 1972

É a continuação de Os Imigrantes (1971), épico sobre a saga de colonos suecos em busca de um assentamento em Minnesota, nos Estados Unidos no século 19.O diretor Jan Troell conduz as 3 horas e 22 minutos da narrativa com equilíbrio perfeito entre imagens, diálogos e atuação de um elenco soberbo que traz à frente os bergmanianos Liv Ullmann e Max Von Sydow.

Rififi - França, 1955

Nunca é tarde para ver uma obra-prima. Só agora tive acesso à Rififi, thriller noir dirigido por Jules Dassin. O filme mostra um assalto perfeito, mas que acaba em muitos problemas. A sequência do assalto na joalheria, toda em silêncio, só ouvimos a respiração dos assaltantes e o barulho mínimo das ferramentas usadas, foi copiada “n” vezes em muitos filmes posteriores. Ritmo, mise-en-scène, direção, elenco e roteiro em perfeita e rara harmonia nessa joia da sétima arte.

O Silêncio dos Outros - Espanha, 2018

Este filme foi exibido na Mostra Internacional de Cinema do 47 Festival de Inverno de Campina Grande, trata-se de um documentário dirigido a quatro mãos por Robert Bahar e Almudena Carracedo. O filme revela a luta épica das vítimas da ditadura de 40 anos do general Francisco Franco, apoiado entre outros por Hitler, na Espanha, que continuam buscando justiça até hoje. Filmado ao longo de seis anos, o documentário, produzido, entre outros, por Pedro Almodóvar, segue os sobreviventes enquanto eles organizam a inovadora 'Ação Judicial Argentina' e lutam contra uma amnésia imposta pelo Estado de crimes contra a humanidade, e explora um país ainda dividido após quatro décadas de democracia. O mesmo tema seria abordado na ficção por Almodóvar em Mães Paralelas (2021).

Amor, Sublime Amor - EUA, 2021

Sessenta anos depois do lançamento da primeira versão para o cinema desse musical que estreou na Broadway em 1957, Steven Spielberg lançou o seu West Side Story. O filme é sublime (assumo o trocadilho) e se iguala em esmero à produção de 1961 dirigida por Robert Wise e Jerome Robbins. A tragédia de Romeu e Julieta, ambientada na era moderna, ganhou folego novo e vibrante nessa luminosa versão de Spielberg. O elenco de atores-bailarinos-cantores é perfeito, com destaque para Ariana Debose que faz Anita (papel vivido por Rita Moreno em 1961) e cuja alta performance, especialmente na sequência da música América, lhe rendeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante neste ano de 2022 (aliás, única estatueta recebida pelo filme das sete indicações a que concorria; o curioso é que Rita Moreno também ganhou o mesmo prêmio na primeira versão).O trabalho de fotografia e câmera, obra do polonês Janusz Kaminski (indicado ao Oscar); a edição, um trabalho duplo de Sarah Broshar e Michael Kahn; os figurinos desenhados por Paul Tazewell (outra indicação ao Oscar); a direção de arte de Ryan Heck, Deborah Jensen, Hinju Kim, Nithya Shrinivasan e Deborah Wheatley (também indicada ao Oscar), tudo é superlativo nesse musical que já nasce como um clássico do gênero. Imperdível.

3 comentários

  1. Boas dicas pra quem procura boas opções de filmes!

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  2. Excelente lista. Muito variada e prolífica, como sempre é o bom cinema!! Feliz 2023 pra gente!

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  3. Em tempos de avalanche de informações, nada como uma lista qualificada com filmes maravilhosos. Feliz Ano Novo e obrigada!

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