O Irlandês: Um Filme Que Já Nasceu Clássico
dezembro 05, 2019Al Pacino e Robert de Niro, grandiosos em "O Irlandês" |
Já está disponível na Netflix (plataforma de streaming) o novo filme do diretor Martin Scorsese. “O Irlandês” (The Irishman, EUA, 2019), com Robert de Niro, Al Pacino e Joe Pesci encabeçando o elenco.
De cara você vai lembrar de “O poderoso chefão” de Francis Ford Coppola (1972), mas não se trata de nenhum plágio ou imitação, é como se fosse uma linha evolutiva ligando um filme ao outro. Tudo de inovador e surpreendente que Coppola lançou no “The Godfather” (e suas duas sequências), está revisado e ampliado nessa nova produção fotografada com maestria por Rodrigo Pietro, que já havia trabalhado com Martin em “O Lobo de Wall Street” de 2003, honrando a tradição de grandes diretores de fotografia mexicanos (que têm como patrono o mestre dos contrastes impressionistas Gabriel Figueroa).
O roteiro de Steven Zaillian, baseado no livro de Charles Brandt, procura esclarecer cinematograficamente (semelhante ao que Tarantino fez com o caso Sharon Tate em “Era Uma Vez em Hollywood”) um crime que na vida real até hoje permanece um mistério: o desaparecimento, em 1975, do influente e poderoso líder sindical americano Jimmy Hoffa, interpretado com a empatia de sempre por Al Pacino.
A marcante trilha sonora original de Robbie Robertson, como também as inserções musicais, com direito até ao choro “Delicado” de Waldir Azevedo, é uma delícia à parte.
A direção de arte de Laura Ballinger, coadjuvada por Mark Harrington, é um daqueles trabalhos que enobrecem qualquer filme e enche os olhos do espectador, tudo isso sem exageros ou apelações, apenas seguindo rigorosamente os parâmetros ambientais de cada época enfocada.
Os figurinos da dupla Christopher Peterson/Sandy Powell são dignos de um Globo de Ouro e/ou um Oscar.
Com suas 3 horas e 29 minutos de duração, o filme é um desafio aos menos afeitos a ver uma produção de cinema na forma em que ela foi pensada, ou seja para ser vista de forma continua, sem pausas ou interrupções. Mas a competente edição de Thelma Schoonmaker, uma parceira de Scorsese desde “Touro Indomável” (1980), permite que o filme seja fatiado como se tratasse de uma série (eu mesmo, por questão de disponibilidade de tempo, o vi em quatro dias seguidos, embora vá vê-lo de novo na forma em que foi pensado e gravado) sem tirar o sabor da obra. Aliás, sobre esse aspecto existe até um “guia” de como dividir o filme como se fosse uma série, coisas destes tempos onde tudo parece longo e tem de ser reduzido sob pena de “perder público”.
Robert de Niro, que não atuava sob a direção de Scorsese desde “Cassino” (1995), completa 9 atuações ao lado de Martin na pele do personagem real Frank Sheeran, uma atuação madura, segura, isenta de tiques, brilhante.
Joe Pesci, que foi convencido por Scorsese a abandonar uma aposentadoria voluntária para fazer este filme, encarna o pragmático Russell Bufalino, um personagem que nos dá a impressão de ser apenas um maquiavélico corpo falante, desprovido de alma. Pesci é uma presença luminosa que atrai como um poderoso imã o olhar do espectador, muitas vezes ele chega a roubar a cena contracenando com De Niro ou Pacino.
O filme traz também uma nova bossa digital que é o tal do de-aging, uma espécie de Photoshop, que rejuvenesce os atores. Ação necessária já que o roteiro cobre quatro décadas da vida dos personagens. Muito elogiado pela “perfeição” do processo digital, eu particularmente não gostei do resultado, me deu a impressão de estar vendo bonecos de plástico ou personagens de um vídeo game no lugar dos atores, mas minha modesta opinião sobre esse detalhe técnico não diminui em nada o fulgor dessa verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo que, para mim, já nasce como um clássico absoluto com seu lugar garantido no panteão dos filmes eternos do cinema.
Vejam e confiram.
1 comentários
Vou assistir e volto!
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