O produtor que revolucionou o cinema brasileiro nos anos 1960 nasceu em Campina Grande e está enterrado aqui, no cemitério do Monte Santo

novembro 02, 2019

O produtor Jarbas Barbosa, irmão de "Chacrinha", filho de Campina Grande

Jarbas Barbosa nasceu em  Campina Grande no ano de 1927, era o irmão mais novo de Abelardo “Chacrinha” Barbosa (este nascido em Surubim, Pernambuco) e de Gessi Barbosa, ex- gerente do banco Bradesco aqui na cidade. Os irmãos Barbosa passaram grande parte da infância em Campina; Abelardo e Jarbas foram para o Rio de Janeiro e lá se profissionalizaram na vida artística, cada um ao seu modo.

Jarbas começou no cinema em 1956, no Rio de Janeiro, como cinegrafista da equipe do produtor Herbert Richers. Em 1960 se associou ao ator e produtor Ronaldo Lupo e fez a comédia “Só naquela base”. A partir daí se dedicou exclusivamente a produzir filmes e soube diversificar bem os gêneros das películas produzidas por ele. Por um lado dava total apoio aos jovens cineastas do nascente Cinema Novo, por outro fazia filmes policiais baseados em fatos reais (o que era garantia de bom público) e comédias musicais que sempre renderam uma boa bilheteria. Foi nesse ritmo que Jarbas promoveu a estreia de Cacá Diegues com “Ganga Zumba, rei dos Palmares” em 1963. Ainda nesse mesmo ano, Barbosa fez um “thriller” que obteve uma boa acolhida do público “Crime no Sacopã”, baseado num rumoroso episódio policial ocorrido no Rio de Janeiro em 1952, o filme foi dirigido por Roberto Pires. Um pouco antes desse filme, Jarbas comprou ao ator Jece Valadão a cota de produção do filme “Boca de Ouro”, baseado na peça de Nelson Rodrigues e dirigido por Nelson Pereira dos Santos (cineasta tido como o “pai” do Cinema Novo), passando a ser produtor do drama que tinha ainda no elenco Odete Lara.

No ano seguinte ele produziu dois filmes para o grupo do Cinema Novo, “Os Fuzis” do moçambicano Ruy Guerra e aquele que seria considerado como o maior clássico do cinema brasileiro em todos os tempos: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, dirigido por um jovem cineasta de apenas 23 anos, Glauber Rocha.

Há 55 anos (1964), Jarbas Barbosa esteve pessoalmente em Campina para promover no Cine Capitólio uma sofisticada pré-estreia de “Deus e o Diabo...”, essa sessão teve a chancela do Lions Club e contou com a presença da então “alta sociedade” local. Parte da renda obtida com a venda dos convites especiais foi destinada para obras de filantropia do clube de serviço.


Em 1965 foi a vez de “Entre o Amor e o Cangaço”, aventura ambientada no nordeste com Milton Ribeiro (o cangaceiro “padrão” do cinema nacional) baseada no romance “Sangue da Terra” escrito pelo paraibano Péricles Leal (filho do jurista Simeão Leal que dá nome a uma das ruas de Campina). No ano de 1966, em pleno domínio musical da Jovem Guarda, Jarbas produziu dois filmes aproveitando a onda da música jovem que dominava o País: “007 e meio no carnaval”, tendo como protagonista o irmão Chacrinha é uma paródia musical aos filmes do agente inglês James Bond que faziam sucesso na época e “Na onda do iê,iê,iê”, filme que lançou no cinema a dupla Renato Aragão e Dedé Santana que mais tarde seriam “Os Trapalhões” na TV. Fechando esse ano de 1966,  a comédia/chanchada “Nudista à força” com Costinha.

Em 1967, mais dois filmes tendo como base a música: “Adorável Trapalhão” com Renato Aragão (uma curiosidade: é a primeira vez que a palavra “trapalhão” aparece associada a Renato) e “Carnaval barra limpa” contando de novo com a participação do irmão Chacrinha. Em 1967 Jarbas produz mais um filme do Cinema Novo “Proezas de Satanás na vila do Leva-e-Traz”, com música de Caetano Veloso e direção de Paulo Gil Soares foi o primeiro longa premiado no prestigiado Festival de Cinema de Brasília.


Em 1968, novo retorno à música jovem com “Juventude e Ternura”, estrelado pela cantora Wanderléa com locações no Rio, Salvador e Recife; e fez ainda um drama baseado num romance de Carlos Heitor Cony (que inclusive é coautor do roteiro do filme): “Antes o verão”, com Jardel Filho e Norma Bengell. Em 1969 ele promove mais um lançamento no cinema, como protagonista, o do cantor Wanderley Cardoso no filme “Pobre príncipe encantado” que marca também a estreia do diretor Daniel Filho. Começando a década de 70, o produtor campinense faz “Os Herdeiros” sob a direção de Cacá Diegues. Em 1971, com a censura da ditadura militar apertando o cerco contra o cinema político e liberando as fitas de apelo sexual, o produtor roda “Soninha toda pura” com Adriana Prieto e Carlo Mossy.

O ano de 1972 reúne pela primeira vez o quarteto dos trapalhões com Jarbas Barbosa no filme “Ali Babá e os 40 ladrões”. Em 1973, quando as chamadas pornochanchadas dominavam as telas nacionais, Jarbas produz uma comédia neste gênero “Amante muito louca”, e dá continuidade à parceria com os trapalhões com “Aladim e a lâmpada maravilhosa”. Essa parceria de sucesso é encerrada em 1974 com “Robin Hood, o Trapalhão da floresta”. Ainda em 74, o produtor paraibano realiza “O filho do chefão”, filme que retorna ao gênero paródia tão recorrente na cinematografia nacional. Dessa vez o parodiado é “O poderoso chefão” de Francis Ford Coppola, no papel do filho do chefão está Flavio Migliaccio, a direção é de um expert neste tipo de comédia, o veterano Victor Lima.

O último grande sucesso desse produtor que tinha um raro talento para essa difícil profissão, notadamente no cinema nacional, foi “Xica da Silva”, dirigido em 1976 por Cacá Diegues e com um elenco que reunia, entre outros, Zezé Mota, José Wilker, Stepan Nercessian, Walmor Chagas, Rodolfo Arena e Elke Maravilha. Embalada pela música-tema de Jorge Benjor, essa superprodução histórica conquistou o público e bateu recordes de bilheteria na época do seu lançamento. Aqui em Campina foi exibida no Cine Babilônia, com boa receptividade do público local.


O filme que não conseguiu fazer

Um dos sonhos acalentados por muitos anos pelo produtor não pôde ser realizado: a transcrição para o cinema do romance “Vingança Não” escrito pelo padre e professor sertanejo da região de Sousa, Francisco Pereira Nóbrega, contando a história do pai dele (padre), o cangaceiro Chico Pereira. Jarbas convidou o cineasta Ruy Guerra para dirigir o filme, inclusive estiveram em Campina Grande para apresentar o projeto a possíveis investidores locais, paralelamente deu entrada na Embrafilme  solicitando coprodução para o filme, mas, inexplicavelmente, o pedido  não foi aprovado.

O último projeto

Antes de sua morte no dia 9 de dezembro de 2005 aos 78 anos de idade, Jarbas Barbosa preparava um documentário sobre o irmão, intitulado “Velho Guerreiro”, o cartunista Ziraldo fez até o poster deste filme, mas o projeto acabou assumido pelo diretor Nelson Hoineff e recebeu o título “Alô, Alô, Terezinha!” (já lançado em cinema e DVD). Jarbas morreu em Recife, mas foi enterrado no jazigo da família em sua terra natal, no cemitério do Monte Santo.

(Publicado originalmente no Volume 1 da revista "Campina Século e Meio" - 2014; Atualizado em 02/11/2019)

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