O Conde de Monte Cristo, Superprodução Francesa, Está Nos Cinemas (Menos em Campina Grande)
dezembro 10, 2024178 anos depois do lançamento da primeira edição do romance O Conde de Monte Cristo, escrito por Alexandre Dumas (pai), estreou no dia 5 de dezembro nos cinemas mais uma versão cinematográfica, a vigésima-oitava, a primeira foi em 1917 ainda na época do cinema mudo, dessa obra que já atravessou mais de meio século e continua despertando interesse neste século 21.
Na epigrafe do romance
Os Miseráveis (1862) Victor Hugo
escreveu: “Enquanto a ignorância e a
miséria permanecerem no planeta, haverá necessidade de livros como esse”
O mesmo se pode dizer,
acrescentando-se a injustiça e a tirania, de O Conde de Monte Cristo, embora a crítica literária estabeleça um
fosso entre a obra de Vitor Hugo e a de Alexandre Dumas, a segunda seria
subliteratura. Mas o senso comum não comunga das opiniões dos canonizadores
literários e o livro atravessa mais de século como um grande sucesso popular.
Li Os Miseráveis de Vitor Hugo, mas nunca me debrucei sobre as 1304 páginas do romance de Dumas, em compensação, se é que se pode fazer essa comparação, vi 4 versões dessa obra no cinema. A de 1934 dirigida por Rowland V. Lee, com Robert Donat no papel de Edmond Dantès; a de 1975 com Richard Chamberlain vivendo o Conde (filme feito para a televisão); a de 2002 dirigida por Kevin Reynolds com Dantès interpretado por Jim Caviezel e finalmente essa mais recente versão francesa lançada nesse ano de 2024, dirigida a quatro mãos por Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, tendo Pierre Niney como Edmond Dantès/Conde de Monte Cristo. Patelière e Delaporte também fizeram a adaptação, escreveram o roteiro e os diálogos (muito bons) do filme.
Devo dizer que essa
foi a versão que gostei mais, primeiro pela duração, 2h58, o que aproxima mais
o filme do espirito do livro (não esqueçam, são 1304 páginas!), depois a
direção, elenco, direção de arte (Cesco Bonello, Sven Bonnici e Patrick Schmitt), cenografia (Raphaël de Chauveron, Emilie Ferrenq e Jessy Kupperman), fotografia
(Nicolas Bolduc), música (Jérôme Rebotier), montagem/edição (Célia Lafitedupont
e Sarah Ternat) além de uma equipe de 38 dublês, tudo fluindo como se fosse uma
partitura de um grande compositor interpretada por uma afinadíssima orquestra
sob a regência de dois maestros harmônicos.
Apesar da longa duração,
o filme é tão bem conduzido que você não sente o tempo passar, é uma aventura
emocionante na forma e, principalmente, no conteúdo. Henrik Ibsen disse que a beleza é o acordo entre o conteúdo e a
forma, nesse sentido O Conde de Monte Cristo é um filme belo.
Não quero entrar aqui
na polêmica secular sobre a motivação das ações do Conde de Monte Cristo:
vingança ou justiça? Para mim ele fez justiça, mas deixo essa conclusão para
você caro leitor, veja o filme (ou leia o livro) e julgue segundo suas
convicções.
Essa história que nos
chega agora nessa ótima versão século 21 (não, não tem motocicletas no lugar de
cavalos nem tênis de marca no lugar das botas) é muito querida por
leitores/espectadores em todo mundo como já dissemos antes, uma curiosidade: em Campina Grande, por exemplo, existe até uma
rua no bairro do Jeremias denominada Conde de Monte Cristo! Acredito que é a
única rua de uma cidade no Brasil homenageando um personagem de um romance.
Voltemos ao filme.
Para quem gosta de um bom entretenimento, bem produzido, com figurinos de época adequados (Thierry Delettre) mas com
um toque sutil de modernidade nos penteados e adereços (uma equipe com nada
menos que 43 profissionais!), porém um entretenimento maduro que ao final deixa
algo para reflexão, um entretenimento que respeita a capacidade cognitiva do
público, com descargas de adrenalina bem dosadas, nada de overdoses desse
hormônio que liberado em excesso acaba envenenando o sangue e estressando o/a espectador
(a), se você se vê representado nesse grupo que desliga o celular durante a
sessão e mastiga com parcimônia a pipoca, então esse filme é para você.
Cinema também é
diversão, não negamos isso, mas já que você vai doar um tempo precioso da sua
vida para a recepção do filme, então que pelo menos obtenha algo positivo em
troca, não só a já citada overdose de adrenalina.
A trama desse filme é tocante
com reviravoltas incríveis, um pouco de romance, história bem contada, duelos
de espadas eletrizantes, suspense e um dilema moral intrigante.
A estreia mundial de O Conde de Monte Cristo foi no Festival
de Cannes em maio passado, é a mais cara produção francesa desse ano: 43
milhões de euros (273 milhões e 480 mil reais, na cotação de 5 de dezembro,
quando escrevo esse texto).
P.S. A empresa
CineSercla, que detém o monopólio dos cinemas em Campina, decidiu, não sei por
quais critérios, que a cidade não tem o direito de ver O Conde de Monte Cristo. Não é a primeira vez que acontece esse
absurdo, Campina também foi privada de ver Megalópolis
de Coppola no mês passado. Isso reforça a necessidade de novas empresas de
cinema se instalarem na cidade (em João Pessoa são 3 empresas diferentes), pois
monopólio sempre é nocivo.
A propósito, quem
quiser ver o ótimo filme O Conde de Monte
Cristo tem de se deslocar até João Pessoa ou Guarabira.
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